Minha Maldição
 Gostaria que seu corpo inflamasse Como o meu, e o sentisse dolorido. Tão profundo, que visse o osso descolorido. Como se apanhasse de um chicote que não visse. E que sentisse esta Dor escura Cegando tua vista como uma navalha afiada, E sentisse na cabeça o peso de uma enxada. E de fora escutasse teu estômago em fervura. E se visse acordada na maca de um legista, E que esta Dor ora fosse um rato, ora uma vela, Que queimasse e mordesse com raiva tua canela. E que todos a olhassem como uma vigarista. E ao espelho vomitasse por teu próprio rosto, Pálida e doente. Sem unhas sobre os dedos. E esta Dor te convencesse de todos teus medos, E desta vida e dos teus dias não tivesse mais gosto. E se visse urinando pelo chão como uma demente, E sentisse tua lividez chegando ainda moribunda. Fosse julgada pecadora e delas fosse a mais imunda, Amarrada e forçada a comer sem ter ao menos um dente. E que assistisse teu profundo coma de uma poltrona fútil Viva, desenganada e vencida por esta Dor carras...